Segundo os pesquisadores, a descoberta pode liquidar uma das superbactérias mais preocupantes da atualidade.
Uma espécie mortal de superbactéria, a Acinetobacter baumannii, encontrou um adversário à altura em um novo antibiótico desenvolvido por meio de inteligência artificial.
Quem traz essa excelente notícia são pesquisadores canadenses e americanos, que enfatizam que a IA possui a capacidade de acelerar de maneira significativa a descoberta de novos medicamentos.
Com a ajuda dessa tecnologia, uma lista extensa de compostos químicos promissores foi minuciosamente filtrada, reduzindo-se a apenas alguns que seriam submetidos a testes laboratoriais.
O resultado foi o surgimento de um antibiótico experimental de alta eficácia denominado abaucina, embora ainda haja a necessidade de passar por mais testes antes de seu uso ser autorizado.
O poder da inteligência artificial
Os pesquisadores embarcaram em um processo de treinamento da inteligência artificial para encontrar esse novo antibiótico.
Primeiro, utilizaram milhares de drogas com estruturas químicas conhecidas e realizaram testes manuais na Acinetobacter baumannii para identificar aquelas que poderiam combatê-la. Os dados resultantes foram fornecidos à inteligência artificial para que ela pudesse aprender as características químicas das drogas capazes de atacar essa superbactéria.
Numa segunda etapa, divulgada pela revista científica Nature Chemical Biology, a inteligência artificial examinou 6.680 compostos de eficácia desconhecida. As descobertas desse estudo revelaram que a IA levou apenas uma hora e meia para gerar uma lista assertiva de possíveis finalistas.
Os pesquisadores refinaram a lista, selecionando 240 compostos para testes laboratoriais. Entre eles, descobriram nove antibióticos em potencial, incluindo a poderosa abaucina.
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O superpoder da abaucina
Os primeiros seres a serem testados com a abaucina foram camundongos, e constatou-se que o antibiótico tinha capacidade de tratar feridas infectadas, além de performar bem ao eliminar amostras da superbactéria em pacientes.
De acordo com Jonathan Stokes, da Universidade McMaster, no Canadá, este é apenas o começo do trabalho. O próximo passo é aperfeiçoar o medicamento em laboratório e prosseguir com os ensaios clínicos. A expectativa é que os primeiros antibióticos gerados pela inteligência artificial possam ser prescritos até 2030.
Um dado curioso que surgiu durante o estudo é que esse antibiótico experimental não teve efeito sobre outras espécies de bactérias, sendo eficaz exclusivamente contra a Acinetobacter baumannii.
A. baumannii: inimigo número um da saúde pública
A atenção dos pesquisadores, nesse primeiro momento, foi direcionada para a Acinetobacter baumannii, uma das bactérias mais problemáticas, conhecida por sua capacidade de provocar infecções em feridas e pneumonia.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a cepa como uma ameaça de natureza “crítica”, frequentemente apresentando resistência a múltiplos antibióticos. A bactéria representa um desafio particular em ambientes hospitalares e residenciais para idosos, onde pode sobreviver em superfícies e equipamentos médicos.
Segundo Strokes, a superbactéria A. baumannii pode ser considerada o “inimigo público número um”, sendo muito comum resistir a quase todos os antibióticos.
Por falar neles, existe uma escassez de novos medicamentos há décadas, o que torna as bactérias cada vez mais difíceis de tratar, uma vez que adquirem resistência aos compostos disponíveis atualmente.
Segundo estimativas, mais de um milhão de indivíduos morrem todos os anos devido a infecções que se tornaram imunes aos antibióticos. Por isso a importância de usar a tecnologia a favor da saúde pública. E a inteligência artificial tem o poder de analisar milhões de potenciais compostos em tempo recorde, o que seria impossível de se fazer manualmente.
“A IA aumenta a taxa e, em um mundo perfeito, diminui o custo com o qual podemos descobrir essas novas classes de antibióticos de que precisamos desesperadamente”, finaliza Stokes, otimista com o futuro.
O próximo passo dos cientistas será aplicar os mesmos métodos de inteligência artificial na busca de antibióticos que sejam eficazes contra outras superbactérias, como a Staphylococcus aureus e a Pseudomonas aeruginosa.