Brasil é líder mundial em casos de transtornos de ansiedade, afirma a OMS.
Por incrível que pareça, a ansiedade não nasceu na era da informação. Os seres humanos convivem com ela desde a Idade da Pedra, quando precisavam sair de suas cavernas para caçar, encontrar água e, no meio disso tudo, proteger os seus grupos de ataques inimigos.
Foi assim que ela evoluiu junto com os nossos antepassados, tornando-se uma ferramenta importante e necessária para a sobrevivência da espécie.
Portanto, é correto afirmar que a ansiedade não é algo necessariamente ruim, pois estimula o indivíduo a entrar em ação. Mas, em excesso, faz exatamente o oposto, impedindo certas reações. E do Paleolítico pra cá o que mudou foi a sua intensidade: o que antes deveria ajudar agora se exacerbou, a ponto de tornar-se um problema.
O coordenador do Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB – UFRJ), Alexandre Valença, faz uma análise sobre quando os sintomas deixam de apontar para uma preocupação comum e passam a caracterizar um transtorno de ansiedade.
“A diferença da ansiedade normal para a ansiedade patológica é que a normal todos nós podemos apresentar no dia a dia. Já o transtorno de ansiedade se caracteriza como sendo uma ansiedade que traz limitações ao cotidiano da pessoa. Ela pode não conseguir trabalhar ou estudar, tem o sofrimento físico e psíquico mais intenso, e os sintomas não estão necessariamente relacionados a um problema específico”, aponta Valença.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com o maior número de ansiosos do mundo. Cerca de 18 milhões de pessoas convivem atualmente com algum transtorno de ansiedade. Durante a pandemia de COVID-19 esses números cresceram 25%, devido ao isolamento social, medo de infecção, desemprego, preocupações financeiras e luto por entes que partiram.
Principais sintomas dos transtornos de ansiedade
Não tem jeito: a ansiedade é considerada o mal do século. Principalmente no ambiente de trabalho, onde se convive com prazos, metas e outras preocupações. O excesso de informações que encontramos na internet e nas redes sociais é outro fator que colabora para o surgimento desses transtornos.
E quando os sintomas leves – como nervosismo durante uma prova ou coração acelerado antes de uma apresentação importante – tornam-se recorrentes, constata-se o surgimento de um transtorno de ansiedade, que requer acompanhamento médico e tratamento.
Veja quais são os principais alertas de que você pode estar desenvolvendo um transtorno de ansiedade:
- Preocupações recorrentes, tensões ou medos exagerados;
- Sensação contínua de que um desastre ou algo muito ruim vai acontecer;
- Preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho;
- Falta de controle sobre pensamentos, imagens ou atitudes;
- Pavor depois de uma situação muito difícil;
- Dificuldade de atenção e concentração;
- Insônia;
- Taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos);
- Sudorese;
- Tremores;
- Ondas de calor ou de frio;
- Tensões musculares;
- Fadiga;
- Irritabilidade;
- Cefaléia;
- Tonturas;
- Alterações no apetite;
- Falta de ar.
O que causa a ansiedade?
A causa exata da ansiedade ainda não é uma unanimidade entre os cientistas. Fatores genéticos e estressores psicossociais — como um término de relacionamento, a perda de um ente querido ou de emprego — são algumas das hipóteses mais apontadas pelos profissionais que buscam explicar a sua origem.
Há ainda questões relacionadas aos chamados fatores bioquímicos, que são alterações de substâncias no sistema nervoso. O consumo excessivo de álcool e drogas fecha a lista.
O que fazer durante uma crise?
O momento mais temido para uma pessoa diagnosticada com transtorno de ansiedade é a chegada de uma crise. O estresse contínuo, uma perda ou uma preocupação recorrente são bons motivos para desencadear esse processo. Nessas horas, o importante é educar a mente.
1) Realize técnicas de controle respiratório: o primeiro passo para amenizar uma crise é escolher um local calmo e confortável. A respiração é a chave do sucesso e prestar atenção nela pode ajudar no relaxamento. Inspire e expire devagar, de forma controlada, atentando apenas para o barulho do ar entrando e saindo. Direcione o seu pensamento somente para isso, evitando lembrar do motivo que desencadeou a crise.
2) Evite pensamentos negativos: em algum momento será preciso enfrentar o motivo da crise, mas não enquanto se está tendo uma. Evite pensar na causa e, principalmente, naqueles pensamentos irracionais que surgem nesses instantes. Se não conseguir controlá-los, a dica é contestá-los, procurando entender se a sua mente está aumentando o problema ou se ele é mesmo real.
3) Conte com a sua rede de apoio: apesar de não ser uma ação imediata, conversar com pessoas próximas e de confiança pode auxiliar em momentos de crise. O contato com outros indivíduos ajuda a entender que não se trata de uma catástrofe iminente, mas sim de um gatilho mental que pode ser amenizado.
4) Direcione a mente para outras atividades: a intenção é tirar o foco do pensamento negativo, então, realizar atividades como escrever, ouvir música, ler, praticar exercícios físicos, meditar ou mesmo tomar um banho podem ajudar.
5) Procure ajuda clínica: após a crise, é preciso ter consciência de que buscar ajuda profissional é muito importante. Faça uso de terapias convencionais e alternativas para alcançar resultados mais eficientes.
7 dicas para diminuir a ansiedade no dia a dia
Não há como prever quando um indivíduo desenvolverá transtornos de ansiedade, muito menos uma receita mágica sobre como evitar. Mas, reconhecendo o problema e adotando passos simples de autocuidado, é possível minimizar o impacto da ansiedade no dia a dia, a ponto de conviver com ela.
1) Respiração e relaxamento: nós já mencionamos a importância da respiração em momentos de crise, mas essa prática pode e deve ser adotada também como forma de prevenção. Para isso, inclua na sua rotina momentos de práticas respiratórias, inspirando e expirando lentamente. Quando combinada com meditação, a prática se torna ainda mais eficiente. Além disso, enquanto você controla a respiração, aproveite para relaxar as áreas mais afetadas pelo estresse, como boca, maxilar, nuca e ombros.
2) Atividades físicas: as atividades físicas aeróbicas ajudam a reduzir dores crônicas e melhoram a qualidade do sono. Isso porque, durante o exercício, são liberados hormônios que promovem a sensação de bem-estar e de felicidade, proporcionando benefícios ao corpo. Destaque para a serotonina, que ajuda a regular o ritmo cardíaco, inibindo as crises de ansiedade.
3) Evite substâncias estimulantes, como a cafeína, a nicotina, o chocolate e o guaraná em pó. Pessoas com transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e síndrome do pânico tendem a apresentar mais quadros de crises quando fazem uso dessas substâncias. Não é preciso cortar nada em definitivo, mas na vida, tudo é uma questão de equilíbrio.
4) Trabalhos manuais, como culinária, pintura e fotografia desenvolvem o raciocínio, a criatividade, melhoram a concentração e geram uma sensação de pertencimento. Pessoas com transtorno de ansiedade que se dedicam a algum hobby têm menos chances de manifestar crises.
5) Organização e autocuidado: definir prioridades e organizar as atividades do dia em uma lista pode ajudar a amenizar aquela sensação de falta de controle. Só é preciso atentar para que a quantidade de afazeres seja proporcional ao tempo disponível e à capacidade de realização, evitando frustrações e sobrecargas. Outro ponto importante são as atividades de autocuidado, que geram sensação de segurança e autonomia e melhoram a autoestima.
6) Sono em dia e de qualidade: indivíduos com ansiedade necessitam de uma boa higiene do sono. Isso envolve se desconectar das telas antes de dormir e procurar realizar atividades relaxantes, como leitura e músicas calmas. É importante ainda obedecer a uma rotina constante de sono durante a semana, de forma a educar o corpo. Oito horas diárias é o ideal.
7) Terapia: nenhuma das dicas anteriores substitui o acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Pessoas com transtornos de ansiedade — dos casos mais leves aos mais graves — precisam de tratamento médico e terapêutico para amenizar os sintomas.