Unindo áreas como robótica, inteligência artificial e autoconsciência, entenda se a boneca assassina dos cinemas poderia se tornar real.
M3gan, filme homônimo lançado em 2023, conta a história de uma boneca robótica criada para ser a companhia de uma jovem solitária, mas que acaba se tornando malvada e ameaçando a vida de todos ao seu redor. Esse enredo pode parecer fictício, mas levanta uma questão importante: é possível criar uma boneca como M3gan na vida real?
Segundo pesquisadores, para responder a essa pergunta é importante entender um pouco sobre as tecnologias envolvidas no processo criativo da boneca. Seriam necessárias ao menos cinco delas:
- Inteligência artificial;
- Robótica;
- Autoconsciência;
- Sensores de reconhecimento espacial;
- Controle corporal.
Vamos destrinchar um pouco sobre cada uma delas e entender o seu papel na estrutura de M3gan.
Inteligência Artificial
Inteligência artificial (IA) é uma área da ciência da computação que se concentra no desenvolvimento de sistemas e tecnologias capazes de realizar tarefas que, de outra forma, exigiriam inteligência humana para serem executadas.
Esses sistemas e tecnologias são projetados para imitar a capacidade humana de aprender, raciocinar, perceber, reconhecer padrões, tomar decisões e resolver problemas.
A IA é alimentada por algoritmos de aprendizado, que permitem que as máquinas aprendam com os dados e as interações humanas para melhorar a sua performance e precisão ao longo do tempo. No caso da boneca M3gan, seria preciso embutir um poderoso sistema de inteligência artificial que tornaria possível o seu rápido aprendizado e coleta de dados, possibilitando a sua compreensão e tradução de sentimentos como amor, raiva, ódio e dissimulação, por exemplo.
Robótica
A robótica, por sua vez, é uma disciplina que se dedica ao desenvolvimento de sistemas mecânicos automatizados. Esses sistemas, que consistem em um conjunto de componentes eletrônicos, mecânicos e computacionais, são programados para realizar funções específicas, como movimentação, manipulação e processamento de dados.
No contexto de M3gan, a robótica seria necessária para construir o corpo físico da boneca, trazendo definição à sua forma, e trabalharia em conjunto com as demais tecnologias.
Autoconsciência
Autoconsciência é um conceito teórico que se refere a máquinas ou sistemas que têm consciência de si mesmos, ou seja, são capazes de perceber e entender a sua própria existência.
Essa tecnologia está intimamente ligada ao campo da inteligência artificial e envolve a capacidade de uma máquina de entender o seu próprio funcionamento, bem como de tomar decisões com base em seu conhecimento e percepção de si mesma e do ambiente ao seu redor.
Para que M3gan funcionasse e conseguisse tomar as próprias decisões – para o bem ou para o mal -, seria necessário que esse conceito estivesse interligado com avanços em sensores de reconhecimento espacial e controle corporal.
Sensores de reconhecimento espacial
No filme, M3gan detecta facilmente a localização espacial dos seres humanos e os seus sentimentos. Vantagem essa que, para ela, torna-se fácil as tarefas de enxergar, mirar e interagir.
Os sensores de reconhecimento espacial são dispositivos eletrônicos que permitem a uma máquina ou sistema compreender e interagir com o ambiente ao seu redor. Esses sensores podem captar informações sobre a posição, movimento, profundidade, distância, forma e cor dos objetos presentes no ambiente, permitindo que a máquina tome decisões e execute tarefas com base nessas informações.
Controle corporal
Numa das cenas do filme, M3gan dança e se movimenta com uma desenvoltura quase humana. O controle corporal, aplicado nesse contexto, cumpriria o papel de orientar a boneca através de movimentos e gestos do corpo humano. Para isso, utilizaria sensores que detectam os movimentos das pessoas e os convertem em comandos que possam ser entendidos e executados.
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Chat GPT: o que M3gan poderia aprender com ele?
Famoso e polêmico ao mesmo tempo, o Chat GPT, ou “Generative Pre-trained Transformer”, é um modelo de linguagem natural baseado em inteligência artificial. Ele é capaz de conversar com pessoas de forma quase humana, respondendo a perguntas, fazendo comentários e até mesmo contando piadas.
O Chat GPT foi criado através do treinamento de uma rede neural profunda em uma enorme quantidade de dados textuais, permitindo que ele tenha uma compreensão bastante avançada sobre a linguagem.
Atualmente, o impacto do Chat GPT na sociedade tem sido significativo, sendo utilizado em diversos setores, desde o atendimento ao cliente até a pesquisa científica e a geração de respostas rápidas. Além disso, a ferramenta tem o potencial de ajudar pessoas em muitas áreas, como na educação, na saúde e até mesmo no entretenimento.
Um mecanismo tão poderoso como esse abre precedentes para um recomeço na era da internet. A OpenAI, empresa responsável pelo desenvolvimento da plataforma, surpreendeu o mundo em 2019 quando lançou o GPT-2, uma atualização da ferramenta que tinha a capacidade de produzir textos coerentes e plausíveis para diferentes temas.
Pensando na estrutura de autoconsciência da boneca M3gan, pode-se notar algumas semelhanças com o Chat GPT, como a imitação precisa do diálogo humano, a coleta de dados eficiente e a capacidade de reagir a diferentes estímulos – ou copiar essa reação, pelo menos -, esboçando fragmentos de sentimentos complexos. Por exemplo, ao iniciar uma conversa fazendo uma saudação à ferramenta da OpenAI, ela tem a capacidade de responder de forma mais cordial e simpática.
Além disso, em um contexto semelhante, o Chat GPT poderia ser utilizado para criar diálogos mais realistas e naturais entre personagens virtuais e os usuários. No caso de M3gan, isso poderia ser usado para aprimorar a experiência dos espectadores e tornar a interação com a boneca mais convincente e assustadora.
Por outro lado, é interessante avaliar que mesmo uma tecnologia tão surpreendente como o Chat GPT carece de muitos requisitos que o tornariam um robô elegível para estar à venda no mercado. A ferramenta permanece muito apoiada na captação, no aprendizado e na reprodução das informações e pouco disposta a gerar esforços nos demais campos, como na robótica, no reconhecimento espacial e no controle corporal.
E, caso a OpenAI decida investir no arremate do checklist acima, seria necessário entrar em uma outra questão superimportante, que envolve a ética dentro da robótica.
M3gan e a ética na robótica
A robótica é uma área que está em constante evolução e tem um grande potencial para beneficiar a sociedade, mas também apresenta desafios éticos complexos, que precisam ser abordados de forma cuidadosa e responsável.
Existem três regras da robótica, que foram formuladas pelo bioquímico e escritor de ficção científica Isaac Asimov, em seus livros da série “Robôs”. Essas regras são:
1) Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2) Um robô deve obedecer as ordens que lhe são dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira regra.
3) Um robô deve proteger a sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a primeira ou a segunda regra.
1) Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2) Um robô deve obedecer as ordens que lhe são dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira regra.
3) Um robô deve proteger a sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a primeira ou a segunda regra.
As três regras da robótica foram concebidas para garantir que os robôs sejam projetados e programados de maneira a não causar danos aos seres humanos. Entretanto, elas servem apenas como um guia ético e não como uma obrigação para os desenvolvedores.
Se por um lado a robótica se esforça para provar o seu valor e corroborar com a sua transparência ética, a ficção científica e o terror muitas vezes fazem um contraponto negativo e exemplificam tudo aquilo que não deveria ser mostrado ou ensinado, em prol do avanço dessas tecnologias.
Portanto, em resposta ao questionamento utilizado no título deste artigo e utilizando-se do senso piadista da ferramenta da OpenAI: enquanto o Chat GPT permanecer enclausurado dentro do digital não será preciso ter medo de uma M3gan saindo de debaixo da cama.